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Abertura da Temporada 2018


PROGRAMA

Abertura da Ópera Ruslan e Ludmila

MIKHAIL GLINKA

Sinfonia nº 8 em Si menor, d. 759, “Inacabada”

1. Allegro moderato

2. Andante con moto

FRANZ SCHUBERT

Sinfonia nº 5 em Dó menor op. 67

1. Allegro con brio

2. Andante con moto

3. Allegro

4. Allegro

LUDWIG VAN BEETHOVEN

AS OBRAS

Abertura da Ópera Ruslan e Ludmila – MIKHAIL GLINKA

O programa inicia-se com a vivaz abertura da ópera Ruslan e Ludmila (1842) de Mikhail Glinka (1804-1857), influente compositor russo cujas ideias de nacionalismo constituíram o germe do chamado Grupo dos Cinco. Este grupo causaria impacto em compositores como Prokofiev, Stravinsky e Shostakovich. Na abertura desta ópera, percebe-se elementos musicais exóticos para a música da época, que procuram retratar a mitologia e o orientalismo presentes no enredo. Esta sonoridade singular pode ser ouvida, por exemplo, nas escalas descendentes de tons inteiros executada pelos trombones no final da peça. Nesta abertura, nota-se temas contrastantes que representam Ruslan, Ludmila e o antagonista Chernomor, temas estes que são recorrentes em toda a ópera.

Sinfonia nº 8 em si menor, d. 759, “Inacabada” – FRANZ SCHUBERT

Quando Schubert faleceu, um ano e oito meses após Beethoven, nenhum jornal de Viena reportou a morte de um grande artista, mas apenas de um músico que tivera uma vida totalmente dedicada à arte e que fora imensamente amado pelos amigos. Ao contrário de Beethoven, cujo funeral foi assistido por cerca de vinte mil pessoas, Schubert teve um funeral modesto, com a presença da família e de seu pequeno círculo de amigos.

O tímido Schubert, que não gostava de publicidade, jamais se importou se sua música seria um dia executada. Seu interesse estava sempre na nova obra a compor. Em vida, teve publicado menos de um terço de suas canções e pouquíssimas obras instrumentais. No entanto, muitas de suas canções circulavam em Viena em cópias manuscritas entre um seleto grupo de amigos. Após sua morte foram exatamente esses amigos, mais alguns admiradores apaixonados, tais como Mendelssohn, Robert e Clara Schumann, Brahms e Liszt, que fizeram de tudo para resgatar, restaurar, editar e difundir sua música. O mundo assistiu atordoado ao aparecimento, ano após ano, de centenas de obras inéditas. Em seus trinta e um anos de vida Schubert havia composto mais de mil obras.

A Sinfonia Inacabada foi composta em Viena, em outubro de 1822. O subtítulo “Inacabada” vem do fato de existirem apenas os dois primeiros movimentos. Em uma carta de 7 de dezembro de 1822 para seu amigo Josef von Spaun, Schubert não incluiu a Sinfonia na lista de suas composições recentes, provavelmente porque, naquela data, ele ainda não a via como uma obra terminada. Porém, por volta de 1824 Schubert teria enviado o manuscrito dos dois movimentos a Anselm, em agradecimento pelo Diploma de Membro Honorário da Sociedade Musical da Estíria, com o qual havia sido homenageado. Se acreditarmos que Schubert dificilmente enviaria uma obra inacabada como agradecimento, é possível que ele tenha percebido que a Sinfonia já estava completa com seus dois maravilhosos movimentos, mesmo que, na época da composição, essa percepção ainda não estivesse clara.

Mas, se a versão da doação da Sinfonia em agradecimento ao Diploma foi uma farsa, teríamos que supor que os irmãos Hüttenbrenner se apropriaram indevidamente do manuscrito. Afinal de contas, o fato é que Anselm reteve a Sinfonia e nunca a doou à Sociedade. No final dos anos 1850 os irmãos Hüttenbrenner começaram, pouco a pouco, a mencionar a existência da Sinfonia e, apenas em 1865, trinta e sete anos após a morte de Schubert, o manuscrito foi entregue ao regente Johann Herbeck, que a estreou em Viena na Gesellschaft der Musikfreunde, no dia 17 de dezembro de 1865.

Sinfonia nº 5 em dó menor op. 67 – LUDWIG VAN BEETHOVEN

No dia 22 de Dezembro de 1808, o Theater an der Wien, em Viena, foi palco de um concerto verdadeiramente extraordinário, começando pela dimensão do programa: quatro horas de música, toda ela de Beethoven, e quase inteiramente desconhecida do público. E, depois, pelo conteúdo: estreia da Quinta e da Sexta Sinfonia, apresentação do Quarto Concerto para Piano, partes da Missa em Dó, improvisações de Beethoven e, para terminar, a Fantasia Coral. Seria difícil imaginar o impacto que teve o concerto em quem pôde presenciá-lo. (E mais difícil ainda imaginar um concerto tão longo – e com tantas estreias – nos nossos dias!). A verdade é que o concerto foi mal recebido pelo público. O sistema de aquecimento do teatro estava estragado e a orquestra parecia insegura e mal ensaiada.

No caso da Quinta Sinfonia, a obra começou rapidamente a ganhar um estatuto quase mítico. Numa muito influente recensão crítica publicada logo em 1810, E. T. A. Hoffmann descrevia o modo como a obra “nos revela o reino do extraordinário e do incomensurável”, a Quinta Sinfonia mostrava como Beethoven era o Mestre supremo do Romantismo na música e aquele que tinha compreendido a essência da arte musical do modo mais profundo. Para Hector Berlioz, a Quinta Sinfonia, “a mais célebre de todas”, “emanava direta e unicamente do gênio de Beethoven, nela se desenvolvendo o seu pensamento íntimo, as suas dores secretas, as suas cóleras concentradas, os seus sonhos plenos de triste desespero, as suas visões noturnas, as suas erupções de entusiasmo”.

Como é bem sabido, todo o primeiro andamento baseia-se no motivo inicial de quatro notas – talvez o fragmento musical mais conhecido de toda a história da música. Muitas foram as interpretações suscitadas por este motivo, em especial no século XIX: desde as pancadas que o Destino bate à porta, às trombetas do Dia do Juízo, ou até o canto de um pássaro que Beethoven teria ouvido num dos seus frequentes passeios em um jardim público em Viena. A verdade é que a resposta, autêntica, encontramo-la nós em todas as notas que se seguem àquele motivo no primeiro andamento. Por outras palavras, é a extraordinária elaboração da ideia inicial – e não tanto a ideia em si – que faz a força tão singular deste andamento.

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